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Cães bombeiros: o trabalho incrível de treinamento para busca de desaparecidos

A relação dos homens com os cães, de acordo com estudiosos, tem pelo menos 12 mil anos. Desde o fim da era do gelo, o homem e o cão já viviam juntos. De lá pra cá, essa parceria vem se aperfeiçoando e o ser humano vem reconhecendo cada vez mais as habilidades desses animais em atuações diversas.


A relevância dos cães de busca para as corporações militares foi copiosamente realçada na tragédia do rompimento da barragem em Brumadinho, em 2019, quando os cães foram fundamentais para encontrar boa parte das vítimas que desapareceram na lama de rejeitos.


O faro e a audição aguçados são elementos que os fazem diferenciados para o trabalho de busca e o fator tempo é crucial em tais operações, por isso, os cães são tão essenciais para essas atividades. No Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) os cães bombeiros passam por um treinamento específico que os habilitam para atuarem nas missões de busca.


O Pelotão de Busca, Resgate e Salvamento com Cães (PBRESC) é subordinado ao Batalhão de Emergências Ambientais e Resposta a Desastres (Bemad), que por sua vez, pertencente ao Comando Especializado de Bombeiros (CEB). O comandante do PBRESC, tenente André Dutra, conta a seguir vários aspectos da vida e trabalho dos cães de um dos nossos canis, localizado em Belo Horizonte.


Quantos canis tem a corporação?


“Nosso Pelotão trabalha com a especialidade de treinar cães especificamente para apoiar nas operações de busca realizadas pelo Corpo de Bombeiros. Existem ainda canis setoriais em Governador Valadares, Montes Claros, Uberaba, Uberlândia e Varginha.”, esclarece o militar.


Quando se deu a entrada dos cães no CBMMG?


De acordo com o registro histórico, o primeiro canil criado na corporação para emprego operacional foi instalado no 1º Batalhão de Bombeiros Militar, mais especificamente no Posto Avançado Saudade, no mês de abril de 2005.


Treinamento para encontrar pessoas desaparecidas


O tenente explica que os cães de busca passam por um período de treinamento e, após serem submetidos à exames de certificação, podem atuar em ocorrências. Basicamente, são divididos em dois grupos: os de busca por odor específico, e os de busca por odor genérico. Segundo ele, essa divisão ocorre para a devida destinação do animal de acordo com cada ocorrência.


Ele explica melhor como funciona: “por exemplo: nas ocorrências de pessoas perdidas em matas − que geralmente são a maior parte dos nossos atendimentos − é possível utilizar um cão que busque por um odor específico. Para isso, pegamos com os parentes da vítima algum pertence do ente desaparecido, e oferecemos para o cão cheirar. A partir desse momento, o cão entende que está buscando apenas aquela pessoa especificamente, e nenhum outro odor tira o seu foco, até o encontro da vítima”, elucida.


Treinamento para atuar em catástrofes


Já para situações de desastres, como desmoronamentos, soterramentos, rompimentos de barragens, ele conta que existem os cães que buscam por odor genérico. Estes cães não têm a dica do que estão procurando, mas são treinados para entrar em um cenário de caos e procurar por pessoas. Alguns deles procuram apenas por pessoas vivas, outros por pessoas vivas, mas também por restos mortais, e por fim, tem ainda os cães que buscam apenas restos mortais ou cadáveres.


“É necessário termos vários tipos de cães para aplicarmos de acordo com as prioridades nas ocorrências, que são sempre resgatar primeiro as pessoas com vida, para então recuperarmos os corpos dos que não sobreviveram.”, alerta o tenente.


Quando começa e como é o adestramento?


O comandante do Pelotão conta que o treinamento de um cão de resgate, como de qualquer cão de trabalho deve iniciar tão cedo quanto possível. “Na tenra infância, o aprendizado é muito mais rápido e enraizado, assim como nos seres humanos. O que não significa que com 60 dias de vida colocaremos um cão para buscar pessoas escondidas”, salienta.


Segundo Dutra, o trabalho começa com uma forte base de socialização. O cão de trabalho deverá se habituar com outros animais, com seres humanos, e serem submetidos a perda da sensibilidade a barulhos e à vários estímulos externos.


Ele conta ainda que o cão não deve ter medo de alturas, de água, de objetos, de pisos instáveis, de texturas desagradáveis. Ou seja, é preciso apresentar o mundo de maneira positiva para os animais para que não tenham problemas mais à frente. “À medida que o filhote vai ganhando confiança, vamos inserindo algumas dinâmicas para estimular seu interesse por brinquedos, que usaremos como recompensa para os treinamentos futuros. E aí seguem inúmeros detalhes minuciosos para formação de cada tipo de cão, mas que em resumo, aprendem a trabalhar para ganhar suas recompensas. Na verdade, quem trabalha somos nós, eles brincam de tentar ganhar o brinquedo.”, argumenta.


Quais raças são mais usualmente empregadas nas missões de busca?


O militar explica que algumas raças são mais comumente usadas para a atividade de busca com cães, como os pastores alemães, pastores belgas de malinois, labradores e border collies. “Recentemente temos investido na raça Bloodhound para a atividade de busca por odor específico, pelo seu faro impressionante.”


Ele destaca também que cada raça tem um conjunto de características biológicas. Na hora da escolha do cão, traços como resistência, bom faro, facilidade de aprendizado, boa socialização e resiliência são fundamentais, mas nem sempre decisivos.


“Na escolha do filhote avaliamos se a cruza foi realizada com o devido cuidado, com a escolha correta dos pais, sem consanguinidade, com boa seleção genética, e na própria ninhada ainda é possível realizar uma seleção do filhote mais adequado para a atividade.” completou.


Binômios


O conjunto de homem e cão recebe o nome de binômio e no CBMMG, os cães são treinados apenas pelo seu condutor. Este binômio, portanto, passa por treinamento. O condutor também se mune de conhecimento para uma melhor comunicação com os animais. “São eles que interpretam e treinam os cães, e em uma ocorrência essa interpretação pode ser o marco entre a vida e a morte.”, finalizou.


Cuidados e aposentadoria


Sobre os cuidados com os cães, o tenente explica como é o procedimento: “nossos amigos de 4 patas são muito bem tratados, sendo trabalhada a saúde física e mental nas atividades e treinamentos. Temos contratos firmados com clínicas veterinárias e o acompanhamento médico é realizado de forma a mantermos os animais sempre saudáveis. Acompanhamos também o desenvolvimento do cão e sua aptidão para o serviço. Infelizmente, porém, alguns não se adaptam à atividade, ou se desgastam muito rápido. Quando isso acontece, para evitar o prejuízo para o cão e para a instituição, é feita a doação do animal para um tutor que o receba em um ambiente mais compatível com suas características. Mesmo os cães ávidos por trabalho também têm sua hora de parar, e aos 8 anos de idade são aposentados e podem curtir a vida nas residências de seus tutores, fazendas ou mesmo em sítios.”, explicou.


Em busca da excelência


“Com essa dinâmica, seguimos o trabalho de treinamento, buscando sempre melhorar o nosso conhecimento e padronizar cada vez mais a atividade em todo o CBMMG.”, finalizou Dutra.








Fonte: Comunicação Social - CBM MG.

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